Os Lares
Estava aqui a ler o post da Filipa, a achar tudo muito bom (gosto muito do tema da tese dela) quando me deparei com a informação de que ela não gosta da palavra Lar. "Oh que raios, coitadinhos dos lares, são tão simpáticos" foi o que me veio à cabeça. Depois é claro tive que desconstruir e reconstruir um pouco a origem deste meu pensamento, porque isto veio de longe, lá do fundo da minha memória.
O conhecimento reduzido que tenho sobre a palavra Lar vem das minhas aulas de Latim na escola Italiana. Parecendo que não, eu acabei por estudar 5 anos de latim, 5 anos onde não aprendi a traduzir uma única palavra de latim (copiava descaradamente), mas onde me dedicava com uma certa atenção ao estudo da literatura latina. Todo esse conhecimento, tenho que dizer, desapareceu algures pelo caminho e eu agora reduzo-me a saber alguns nomes como o do Catulo (de quem gostava muito), Virgílio, Apuleio...
Ora, numa das aulas de Latim, a nossa Professora (que era uma senhora, sempre impecável, daquelas senhoras muito cools porque parece que já perceberam o mundo todo, mas não deixam de ter compreensão pela forma mundana como as outras pessoas levam as suas vidas) deu-nos um texto tirado do Aululária do Plauto, que começa com uma introdução feita pelo Lar familiaris da casa onde se passa a acção. Foi ela que nos explicou que os lares familiares eram divindades protectoras romanas que protegiam cada família e casa. Para os romanos existiam vários tipo de Lares: os Lares domestici (os das casas), os lares familiares (os das famílias - que representavam os antepassados), os lares viales (os dos viajantes), os lares praestitis (do estado), os Lari Compitales (dos cruzamentos), entre muitos outros... Os lares familiares estavam associados a uma determinada casa e nunca a abandonavam.
Por alguma razão eu gostei muito desta imagem, e imaginei os lares como sendo uns simpáticos espíritos, pequeninos, sentados em cima do aquecimento central (estávamos em Itália, e no Inverno), muito divertidos e ocupados em proteger os habitantes das suas casas. Uma espécie de duendinhos dos espaço doméstico... Não uma imagem religiosa, mas mais afectiva, os lares seriam o que tornam uma casa particular e diferente (e a explicação pela qual as casas antigas têm mais "alma" do que as novas).
Pelos vistos esta imagem ficou, mesmo que semi-apagada, e ainda hoje a palavra lar vem com tudo isto associado.
(tive que consultar vários artigos na Internet para me poder lembrar disto tudo, obviamente)
1 comentários:
tenho assim um imaginário muito fixe da vossa vida em itália. assim, até quase que consigo gostar da palavra lar, sweet jussy.
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