os joads, n'as vinhas da ira (o livro e o filme), fazem a route 66 para sobreviver, que hoje já não existe inteira mas que nas nossas cabeças é completa, nem que seja simbolicamente.
demorei muito tempo a ler o livro, é muito duro. reli-o agora por causa das estradas e dos trajectos na américa e dos heróis e de mais uma catrefada de razões. mas é por causa do steinbeck e do ford, os respectivos responsáveis pela matéria prima e pela sua re-criação, que a estrada, a maior dos estados unidos, ganhou o seu estatuto mítico.
na década de 20, com a quantidade estúpida de dinheiro que circulava nos eua, foi criada uma rede de estradas e auto-estradas (sem portagens!) que assegurava uma circulação fluida entre estados. na mesma altura, e sublinhando o materialismo e o ambiente histérico de festa daquela américa, a indústria dos carros mais que lucrava e aquelas estradas e auto-estradas tornaram-se veias. uns anos depois, a bolsa crashou, estados faliram, e todos tiveram de se desenrascar com o que podiam.
por causa disso, a família joad, paupérrima e expulsa da sua própria casa, junta-se a milhares de outras famílias e todas viram-se para o oeste, onde está a promessa da felicidade, da fruta sumarenta e de trabalho para todos. (é também onde fica hollywood.) o movimento em direcção a essa promessa - furada - não é inútil, apesar de parecer ser. é o povo a mover-se, levando consigo a sua casa e a criar on the road pequenas simulações daquela de que foram obrigados a prescindir. mas, como não se está na época dos cowboys, a terra já pertence a alguém, já está organizada. é o furo da promessa.
a viagem é um parto, aquela viagem é um parto, é a tentativa constante de fundar um novo lar (eu não gosto da palavra lar), que vai sendo sucessivamente boicotada. e dessa resistência surge a solidariedade e a revolução, e a esperança, porque eles continuam sempre a andar.
as vinhas da ira, o livro e o filme, é um texto bíblico, que eu amo.
o texto original é do steinbeck e a jussara ofereceu-me o diário do escritor da altura em que escrevia o livro.
a epígrafe do prefácio é uma citação de uma outra obra do steinbeck, Travels with Charley, e diz: "... home has ceased to exist except in the mothballs of memory.".
é um excelente ponto de partida para tudo, até para o meu trabalho. excelente.
Monday, January 21, 2008
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1 comentários:
:) Um dia vou ter que me dedicar às Vinhas da Ira. Só ainda não sei se em livro ou em filme...
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