tenho andado mais calada porque ando concentrada no trabalho.
tenho vontade de partilhar pormenores-pensamentos mas não consigo, não percebo bem porquê, desenvolvê-los muito.
o meu trabalho é pensar e escrever sobre filmes.
há um filme que já me fez por 2 ou 3 vezes abrir a caixa do blogger e escrevinhar qualquer coisinha, muito como confissão, mas também como expulsão e descompressão. eu sou apaixonada por alguns filmes da minha tese. à medida em que vou escrevendo sobre eles, essa relação intensifica-se mais ou menos. há filmes que não sobrevivem bem à intensidade e à lupa, um pouco como as pessoas. ficam para trás, arrumadinhos, for the time being, we never know.
neste momento estou em contacto mais que directo com o DAYS OF HEAVEN, do Malick, de 1978. o filme é poderoso por muitos motivos mas aquele que mais afecta, ou que afecta primeiro, é a fotografia, e colado vem o som. está mesmo colado, não dá muito para separar sem ser à força. a maior parte do filme é rodada ao ar livre e filmada ao pôr do sol, a magic hour, um filtro natural que pinta tudo com tons quentes. como o malick dá tanta importância às personagens quanto à paisagem e aos animais, o filme é de facto um mundo inteiro todo vivo. o som é o da terra, misturado com música que em nada atrapalha aquela harmonia exemplar.
os quadros do hopper e do wyeth estão lá. lembrei-me também daqueles do van gogh em que camponeses estão esparramados em cima da palha. quando no filmes os quadros estão lá metidos, o ritmo da história parece que abranda e aquilo afecta a pessoa de uma maneira diferente. não como na rapariga com brinco de pérola, mais como na idade da inocência. a história é tão intensa, a pessoa está toda dentro dela, que a evocação de um quadro (topando-se ou não que nos estão a fazer isso) é por um lado descompressão e por outro intensificação de qualquer coisa que a história contém. o days of heaven vive dentro dessa intensificação que também é descompressão, mesmo que disfarçada.
eu não leio poesia mas simpatizo com a ideia de Deus do alberto caeiro. sempre que dou com um cenário assim, de facto brutal - acho que essa é a acepção correcta da palavra - , penso nesse poema, o da metafísica bastante. sofro do síndrome benarddacostiano, a consciência que tenho da minha vida toda implicada no filme, uma vida em que o sagrado vem do profano - já isto menos à bénard. o cinema, este filme do malick, são o ponto perfeito onde esse jogo acontece com simplicidade.
e tudo isto por causa de uns bois, pássaros, pessoas, palha e muito ar.
é muito por causa do ar.
para a prinsusa e para a sónia dos açores, as amigas ao longe para quem o filme pode fazer este sentido.
Tuesday, February 24, 2009
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3 comentários:
Este foi um daqueles filmes que vi quando era pequenina, não sei exactamente com que idade, mas foi com menos de 10 anos. Ficou-me na cabeça durante imenso tempo, lembrava-me do ambiente, da casa, das paisagens, e da cena na água... Mas foi a história que mexeu comigo na altura, este filmes complicados com finais para os quais não estávamos preparados. Só muitos anos mais tarde o reconheci na televisão e percebi quem eram os actores. Bom, e mais tarde ainda descobri quem era o realizador :)
fili,
o quadro do van gogh cita este do millet (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/57/Jean-Fran%C3%A7ois_Millet_Angelus.jpg), que tem muito mais a ver com a imagem que escolheste! (e é mais bónito)
não achas?
sabes o que digo? BRUTAL! é tão lindo!
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