Uma das desvantagens de se viver mesmo ao lado do campo (ou de um descampado, se preferirem) é que as interacções com a natureza não são sempre pacíficas. No verão, quando está muito muito calor tenho que ter muito cuidados porque as abelhas e zangões ficam totalmente desnorteados e tentam entrar para dentro de qualquer janela que esteja aberta. Isso pode levar a uma certas horas de interacção com os bichos até que eles percebam qual é a saída para a rua.
No final do inverno costumamos receber a vista das marias-cafés, que são umas minhocas pretas, inofensivas e felizmente não demasiado nojentas. Não sei porquê, mas nessa altura elas decidem que o campo não é vida para elas e começam a escalar os prédios das redondezas. Em anos normais isso leva a que acabemos por receber a visita cá em casa de umas quantas, nada de mais. Há dois anos a trás, no entanto, talvez pela conjunção da temperatura, chuva, humidade, não sei bem, as marias-cafés aqui da zona resolveram reproduzir-se de forma descontrolada e nós fomos literalmente invadidos por marias-cafés "trepadoras de prédios" e "invasoras de andares". Não vos consigo descrever a cena que era, ao início da noite, assistir aos milhares de minhoquinhas a esforçarem-se, prédio a cima, não se sabe bem com que objectivo. Era de tal maneira que a minha vizinha ia para a entrada do prédio com uma vassorinha para as apanhar antes da escalada e acreditem que enchia a pá de pequenos bichinhos pretos. Mas bom, como vos dizia, independentemente desse ano anormal, não é que estas minhocas sejam uma problema grave, algumas acabam por entrar nas casas, passeiam-se um pouco pelo tecto e paredes (perante a grande indiferença da Miurka que já não lhes acha piada nenhuma) e depois inevitavelmente morrem e acabam dentro do aspirador.
Mais difícil é a convivência com as aranhas. Eu não tenho em geral muitos problemas com aranhas. Acho-as interessantes, ocasionalmente bonitas, gosto de as observar quando estão na natureza e tolero-as mais ou menos bem. De forma geral, desde que as aranhas (grandes) não estejam demasiado perto de mim ou ameacem vir na minha direcção, estamos na boa.
O problema cá em casa é que quando tenho visitas de aranhas (e note-se que só aconteceu 4 vezes em 5 anos, portanto, felizmente, não é uma situação recorrente) elas são grandes e castanhas e grossas, daquelas aranhas do campo bem feiosas. Coitadas, quando isso acontece elas costumam ter um ar mais perdido do que o meu, não sabendo bem o que é que devem fazer. Em geral, se me aparecem no tecto da sala ou do estúdio, por exemplo, eu limito-me a ignorá-las (perante o entusiasmo frustrado da Miurka que lhes acha muita piada). Acho sempre que o pior que pode a acontecer é elas encontrarem um cantinho confortável para se reproduzirem ao infinito ;)... não, brinco... na verdade acho que elas gostam de estar cá em casa tanto como eu gosto de as ter por cá e portanto acabam sempre por se ir embora.
O problema surge quando elas aparecem na casa de banho. Têm que ver que a minha casa de banho tem cerca de dois metros quadrados, não mais. Dos quais 1/4 está ocupado pelo móvel do lavatório e 1/4 pelo poliban. É um espaço mínimo... onde as minhas regras de convivência pacífica com as aranhas não funcionam, pelo simples facto de elas estarem sempre, necessariamente, demasiado perto de mim, ou na iminente possibilidade de o vir a estar. Se a isso acrescentarmos o facto de elas gostarem muito de se refugiar nas toalhas de banho... Bom, vocês percebem.
Felizmente das duas vezes que isso aconteceu eu vi-as sempre antes de utilizar as ditas toalhas, de forma que evitei um contacto mais próximo e bem mais traumatizante entre esses pequenos aracnídeos e a minha pele (e se isso tivesse acontecido acreditem que o tom deste post seria muito diferentes). Das duas vezes fiquei sem saber o que fazer... Porque se há coisa que me faz mais confusão do que conviver com uma aranha, é matar uma aranha, não sou capaz. Portanto a única alternativa é deixá-la estar e esperar que desapareça. Infelizmente, num espaço tão reduzido, não há muito para onde ela possa desaparecer e a ideia de ter uma aranha enorme, castanha, a viver dentro do armário da casa de banho, no meio dos produtos de higiene... não me agrada assim muito. Felizmente para mim (e para vocês, porque esta história já vai longa) o A. estava cá em casa sempre que os aracnídeos resolveram servir-se dos meus lavabos... e portanto foi a ele que recorri...
... às 3 e meia da manhã de ontem, já ele dormia há horas! Arranquei-o da cama com a frase "está uma aranha na toalha da casa de banho, tens que fazer alguma coisa!". E acrescentei "é grande e feia!". E ele coitado lá se levantou, arrastou-se, queixou-se, e resolveu o problema...
Hoje, antes de se ir deitar avisou "não me acordes por nada menos do que um escorpião"