Friday, November 21, 2008

a menos de três semanas do regresso, são 4 e 30 da tarde, escrevo no lugar de todos os dias, de costas para a janela. estou a ouvir a joni mitchell, uma outra grande companhia da estadia. o inverno chegou com tanta imposição que as folhas das árvores ali debaixo cairam no chão. e hoje o chão só não está amarelo porque alguém as varreu. nos outros dias, as árvores pareciam rachas num quadro de folhas amarelas a cobrir um chão escuro. a viagem às montanhas e à praia ficou para trás mas as marcas estão ainda em mim.
a questão da américa, aprendo, é a dimensão.
na guiné, tinha já percebido o tamanho ridículo dos humanos num quadro real de natureza de proporções gigantescas. mas lá é tão natural que isso se sinta logo porque lá as distâncias dilatam porque as infra-estruturas estão todas deficientes. foi a áfrica que ainda pude conhecer, um país do tamanho do alentejo mas que me parecia infinito. no brasil foi tão forte, em minas aconteceu o mesmo. a velocidade a diminuir, a distância a aumentar e o caminho a transformar-se logo. três horas para fazer 23 km. mas na viagem entre o rio e s. paulo, feita de autocarro e também de carro, já se sentia um bocadinho o que senti naqueles 10 dias mini-on the road. a pessoa anda anda e anda e nem andou assim tanto, e não interessa assim muito. mas a pessoa sentir-se pequenina em movimento, em estradas sem buracos e às vezes vazias, em carros que aceleram, interessa (sobretudo a uma mina que escreve sobre o assunto). parece que por mais que acelere (não dá para acelerar assim tanto) a estrada não tem fim. só dá vontade de acelerar por isso mesmo.
sobre a natureza, que em cape cod é maravilhosa a jogar com as cores das folhas, deu também para sentir por uns momentos que o tamanho e a densidade são brutais. acho que aqui brutal aplica-se de facto. tentámos entrar nas catskills, entrámos mesmo nas catskills mas só lá estando dentro é que percebi isso da força da wilderness. as catskill mountains têm 87 picos. 87 picos. e não é uma serra assim tão grande. guiámos ainda um bocado lá dentro. enquadramentos lindos com vegetação densa. lá em cima havia neve, pouquinha mas havia. cá em baixo, riachos e uma linha férrea velha e inutilizada. casinhas lindas com fumo a sair da chaminé. locais com camisas quentes e botas boas para o outdoors. lagos, parques naturais, tudo em sequência.
lembrei-me tanto do twin peaks. para quem a série é referência, é assim a zona. camiões com troncos enormes de lenha, diners com cup of coffee e blueberry pie (que até parece ser boa). foi forte, sobretudo a chegada a um lago que vou descrever como sublime. era pequeno e numa ponta, onde estávamos, começava a extensão da água. o lago estava no cimo de uma montanha, portanto para lá dele havia qualquer coisa que não se via, um precipício talvez, não sei dizer. árvores lindas coloridas e muitas de um dos lados e rocha quase branca do outro. rocha que se elevava para cima, tão alto, e lá no topo, disfarçadíssima, uma super-casa, meio obscena por existir ali. ficámos sentados quase em silêncio. este foi o momento puro mais intenso destes 3 meses aqui e de muitos mais aí. só de descrevê-lo fico afectada.
volto para o trabalho com o coração a bater com mais força.

3 comentários:

Maria João November 22, 2008 at 1:58 AM  

Sôdade!!!!!

Catarina November 22, 2008 at 6:00 AM  

lindooo, nós tb ficamos afectados! ;-)
neva pa caraças em bruxelas...tá lindo!

beijoooo
3 semanas...ui!

Anonymous November 24, 2008 at 10:52 AM  

quando dizes que a blueberry pie "parece" saborosa, posso partir do princípio que não a provaste? como é que resististe?
beijooooooos e montes de saudades.

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