olha, 'tou aqui a beber uma cerveja.
gostava q estivessemos no pico a bebê-la juntas.
no verão de 2006, passei 3 semanas nos açores com uma amiga de lá, que abriu as portas da sua casa quando percebeu que eu precisava disso mesmo. eu fui, completamente de rastos, com a cabeça cheia de emoções e raciocínios forçados e retorcidos que se enrolavam nessas emoções e, de tanto sentir, andava tão cansada. os açores, ou a terceira e o pico (as vencedoras), são um lugar mágico que eu não sei descrever. a memória mais bonita que tenho foi a dos dias que passámos as duas numa casinha no pico que tinha como vista o mar o céu e a montanha.
quando a pessoa está naquelas fases de recomposição, ter o contexto físico reduzido ao essencial é brutal. o essencial era especificamente os elementos, a companhia amiga e o silêncio. (o silêncio aconteceu um bocado por acaso, já que do meu ipod lindo antigo desapareceram todas as músicas. todas.)
o mar e a montanha são tudo. no mar, a pessoa enfia-se, manda-se, ele apanha-nos. a montanha está lá. se a subirmos ou não, é indiferente: ela estará sempre lá. o mar integra e a pessoa revitaliza. a montanha põe-nos no cimo do mundo e a pessoa, sem saída, contempla e relativiza. o mar e a montanha permitem-nos sentir que fazemos parte de qualquer coisa de muito grande, de muito lindo; é um sentido de pertença diferente porque, neles, a experiência de cada um é de facto individual. é íntima, poderosa e reestruturante. como tudo o que faz com o corpo. é experiência erótica.
quando voltei dessa viagem, não vinha outra. mas fui relembrada, por causa da sónia, de que a vida tem os seus cambalachos, é uma montanha russa. aparecem pessoas que são tufões, que vão e vêm. e que, mesmo apesar de tudo, há o mar e a montanha. e o silêncio e a amizade.
quando bebo uma cerveja no fim do dia, sozinha, como hoje, lembro-me do Pico e das carlsbergs no fim do dia, que encerravam um minicliclo qualquer diário e abriam um outro.
uma vez, a tomar banho no melhor dos mares, eu e a sónia vimos tantos golfinhos e lembro-me de pensar que a felicidade consegue encontrar atalhos inesperados e espreitar por momentos no mar, entre montanhas, nos açores. e, claro, também a encontrei na alcatra, nos pés de torresmo, no kimo. mas sempre, sempre, nas cervejas no final do dia.
Wednesday, February 6, 2008
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8 comentários:
Sim linda, aqueles momentos ficaram completamente colados à pele. A questão nunca se prendeu com o subir ou não a montanha, mas de entrarmos, de mergulharmos verdadeiramente dentro de nós. Estivémos uma com a outra. Estivémos. Simplesmente.
agora tive inveja.
fili, adoro-te. estou para aqui a ler e a rele este teu post vezes sem conta. que coisa mais bonita. do fundo do coração, mesmo.
obrigada! sem palavras para mais.
tu és muita boa mana!!!!
GOSTO MUITO DE TE LER. SOU UMA CUSCA CHAMA-DA TÉTÉ.
és tu que manténs a lucha a par da vida das sobrinhas, n és? muita fixe!!!!
Fili, descobri este post (e o blog) através da Ana Rute e as tuas palavras tiveram um efeito tão poderoso em mim que gostava de saber se posso linkar a partir do meu blog. :)
Obrigada!
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