o mundo dos livros sempre me preencheu, não só o que eles contêm, mas também o objecto a que eles correspondem. numa sala com livros gosto de estar. por entre os meus pessoais heróis da escrita, está a jane austen, que continua a deixar-me completa. uma vez, em casa da sofia e do luís, há uns anos, vi com a lia, no biography channel, um documentário sobre a vida da austen. gostei imenso, sobretudo porque mostravam como os livros dela resistem ao tempo e ao espaço e que ainda hoje conseguem ser subversivos. mostravam como, utilizando o grande darcy, ela criou heróis bigger than life e maiores do que os livros. para isso, entrevistaram um série de gente - mulheres - em vários países, de inglaterra ao irão, onde o orgulho e preconceito era lido às escondidas, em grupos de leitura underground e deliciavam aquelas jovens iranianas bonitas. todas falavam do darcy e da lizzie como heróis, ele porque aprendeu a ver a razão e é perfeito, ela porque lutava tanto num mundo ao qual sentia que estava de fora, e venceu.
aqui há umas semanas, um amigo iraniano da minha família falou-me de um livro que está no top ten do new york times há dois anos e que, se eu quisesse ter uma imagem menos simplista da vida de jovens iranianas, deveria lê-lo. tinha-lhe falado do persepolis, que adorei. ele arrumou-me com um para os ocidentais aquilo é o suficiente, mas tenta ir mais longe.
bom, comprei o livro e ainda não cheguei a metade. chama-se "reading lolita in tehran", e foi escrito por uma professora chamada azar nafisi. (Nunca li o nabokov, mas vi o filme. tem uma viagem de carro que dura dois anos...) esta senhora despediu-se de uma universidade importante em teerão, onde dava aulas de literatura, e decidiu criar um clube de leitura só com raparigas, naturalmente. reuniam-se na casa dela às quintas de manhã, fizeram-no durante anos. de três em três páginas, comovo-mo. o grupo era formado por boas alunas dela, 12, que liam clássicos ocidentais e discutiam-nos nessas horas partilhadas. no livro, ela fala da partilha. e usa as personagens dos livros que foram discutindo para pensar sobre as vidas delas enquanto mulheres emprisionadas num regime fascista e altamente violento.
o últimos dos quatro ou cinco capítulos fala da jane austen, e do darcy.
acredito tanto que a iraniana do documentário seja a escritora do livro. tanto!
isto tudo comove-me, eu que estou longe de casa mas mais perto de outras referências brutais. a ideia do livro é magnífica, o facto de ter sido verdade deixa-me sem palavras e estar a lê-lo relembra-me da santa sorte que sempre tive.
no farenheit 451, do truffaut, os humanos decoram livros que amam. cada um é um livro. e moram longe da cidade grande, uma distopia regulada por um estado que manda queimar tudo o que possa levar a pessoa a querer rebeliar-se (?). é o momento mais bonito do cinema, se um só houvesse. o livro da nafisi é uma variação dessas pessoas que amam os livros e que os decoram para os salvar. os livros salvaram bastantes horas das vidas daquelas mulheres.
mal posso esperar para chegar ao capítulo da austen.
Friday, September 26, 2008
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2 comentários:
deixaste-me com a pulga atrás da orelha. posso encomendar-te já um exemplar desse livro e trazes-me quando regressares? beijo.
Ah Ganda Saeed!!!
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