já falei aqui do sobral, uma aldeia a 27 kms de castelo branco, onde está uma casa enorme e linda que é da minha família. a casa tem um quintal fixe, que pertence à família do meu avô (que está no céu) e dos irmãos dele. o quintal tem um caminho. é pequeno, o caminho. mas é um caminho. daqueles que no início não se vê o fim, e vice-versa. de um lado laranjeiras em terra seca e mole, do outro o muro que deixa espreitar para a rua, lá em baixo, e que dá uma perspectiva cagona muito fixe do resto da aldeia. tipo olha-se para baixo. um caminho só nosso, de onde se olha para a rua paralela, as casas que daí descaiem para acabar em terra desafogada e aberta, muito beira-baixa e com uns bocados de pinhal, ou qualquer coisa do género, que me faziam lembrar o twin peaks, abençoada imaginação.
eu amo caminhos, e jardins secretos. no meio do jardim da casa do sobral, há sítiozinhos que nunca aproveitei verdadeiramente mas que são a imagem perfeita de delírios infantis. esses meus delírios continuam a ser os mesmos. gosto muito de me lembrar das histórias que a minha avó contava, e ainda pode contar, sobre a vida que aquele espaço já teve. uma vida concreta, mais real do que as minhas fantasias de miúda-que-sempre-gostou-de-ler mas igualmente deliciosa. qualquer coisa tipo "as mulherzinhas" meets "o jardim secreto". pronto, só que na beira baixa, a comer tijelada, borrachões, bolos da páscoa, azeitinho poderoso, borrego e batats de sarpão.
é um mitologia bastante ingénua e de um nível só mas m'encanta sempre. hoje enfiava-me na boa num desses quadros que a pessoa pinta do passado do passado, com tons quentes à la vermeer dentro de casa. na boa.