Documentários 2
Acabei agora de ver o Gates of Heaven do Errol Morris. Tinha lido aqui que este era considerado um dos melhores documentários de sempre e que tinha nascido de uma aposta entre o Herzog e o Errol Morris.
Gostei do filme (até porque o tema dos animais e personagens caricatos que se apresentam e representam nos documentários funciona bem comigo), mas não achei, de facto, o melhor que alguma vez já vi. Não sei, se calhar porque muitos realizadores já fizeram inúmeros filmes parecidos com este nos últimos 30 anos, ou se calhar, porque a reality tv americana dos últimos dez anos já tornou familiar o grau de insanidade e estranheza das pessoas reais (por vezes muito mais do que as personagens fictícias).
Bom, não que o filme seja só isso. Tenho que dizer que o que é interessante neste caso é que nenhum destes personagens é particularmente insano, ou mesmo caricato... São estranhos personagens, um pouco tristes e perdidos. Gosto desta explicação do realizador:
"From the beginning, I would always object when people would say, 'It's the pet-cemetery movie.' No, no, no, no! It's not about pet cemeteries. And the next question is always,'If it's not about pet cemeteries, what is it about?' Well, that's tricky! In essence, it embodies many of the ideas that are in every single film I've made. The obsession with language. Eye contact. An interest in accounts of subjective experience rather than objective reporting. The fundamental belief that if you scratch the surface of any person, you will find a world of the insane, very close to that surface."
De qualquer maneira um aspecto, em particular, chamou a minha atenção. Um dos personagens (reais) da parte final do documentário, o filho mais velho de um proprietário do cemitério para animais, tem um estranho discurso muito estruturado sobre motivação que me pareceu familiar. As suas cenas vão se intercalando com o do irmão e o do pai, mas, à medida que o filme se ia desenrolando, cada vez mais o que ele dizia se parecia, quase literalmente, com os discursos do personagem do Pai no filme Miss Little Sunshine. Este senhor explica para as câmaras que trabalhou muitos anos nos seguros, subiu de posição, mas não aguentou a pressão. Resolveu então voltar para a Califórnia para trabalhar com o Pai e o irmão mais novo no pequeno cemitério da família. Apesar da sua história poder ser vista como uma história de insucesso e de ele próprio admitir que é só o número três na empresa familiar, o discurso dele é totalmente desfasado desta realidade e ele só fala de sucesso e de auto-motivação e de incutir motivação nos outros.
Para ter a certeza fui confirmar no google e descobri aqui que o Gates of Heaven é o filme preferido da realizadora do "Miss Sunshine".
Só por causa disso passei a gostar ainda mais deste filme :)
1 comentários:
muito fixe, jussy, muito fixe.
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