Wednesday, September 26, 2007

vou fazer 30 anos em menos de dois meses. estou tipo pêndulo entre aquela sensação de bem estar de quem encontra e vive uma maneira própria e "certa" de estar na vida (identidade bem definida, na medida do possível) e pensamentos um bocado assustadores, como filipinha? tic tac, tic tac!!. este tic tac é poderoso, tem o peso da vida toda.
a pessoa é criança, brinca, choraminga, deixa-se levar e sente que aos bocadinhos há qualquer coisa de seu, de só seu, a formar-se. entra na adolescência, experimenta, aproxima-se de quem faz mais sentido, escolhe. a pessoa continua a andar, vai para a faculdade, ou se idenfica ou não. eu não. mas retomei a ligação à academia por via de um amor velho, o cinema. mas lá vai desbastando o seu caminho para poder passar em condições, conhece outros mundos, outros amores, apaixona-se por lugares por frases por caras por tudo, mas também leva alguma pancada. se tiver sorte, leva só aquela que, pronto, terá sempre de levar. se tiver muita sorte. como eu, aliás.
e depois chega a esta fase em que se goza da indepedência e da liberdade e, quando possível, da felicidade. mas o lembrete do tic tac está lá, está cá. a ver se da próxima vez não me ponho a ouvir música clássica enquanto me obrigo a trabalhar, depois de ter enfardado uma excelente sopa de legumes, secretos de porco preto com arroz de grelos e ainda mini-colherzinhas de mousse de chocolate. foge a vontade de trabalhar, os poros aceitam toda a luz que o rio manda para aqui e fica uma moleza sem explicação.
vou fazer 30 anos em menos de dois meses.

Friday, September 21, 2007

ontem fez um ano que apanhei um avião para nova iorque por três meses. foi muito bom, nunca tinha estado fora da lusitânia por mais que 1 mês e, mesmo assim, foi sempre em modos totalmente diferentes. tive muitas visitas, estive fora da big apple umas duas semanas, mas a verdade é que saí de lá a sentir que tinha conseguido inserir-me bem na paisagem, como diz a minha amiga guia turística da terceira. não destoava, isto é.
não é difícil a pessoa sentir-se parte de nova iorque. há lá sítio para todos porque basicamente estão lá todos, o caminho já foi aberto. é uma plataforma de convívio, onde cada um está na sua a um ritmo alucinante e com um investimento muito forte e verdadeiro nessa sua trajectória. e a força com que percorrem aquelas ruas, a força com que estão na vida, a força que eu tinha quando lá estava, dá-lhes uma pulsão incrível, tudo fervilha.
eu já disse e escrevi isto mil vezes mas, com ipod a bombar, a sair domingo à tarde, no finzinho da tarde, naquele vazio poderoso e lixado do domingo, a descer a broadway, em plena village, pleno outono, eu reduzida a mim mesma, família e amigos a uma distância tão grande que se traduzia em tempos diferentes - eu vivia concretamente o meu próprio tempo - , tudo isto, tudo isto formava o mais bonito dos quadros. e eu a estrela desse filme, é pouco humilde mas é real.
como se já não fosse o sítio que eu mais amava no mundo - sítio fora de mim - , a coisa concretizou-se em beleza ali na esquina na 3rd com a 27th, num estúdio cool que foi o mais bonito porto em que atraquei.
(e isto é a essência da coisa, é que nem falo de tudo, tudo o que aconteceu por lá.)
tenho muitas, muitas saudades. e, quanto mais procuro nova iorque dentro de mim, fico com mais saudades, descubro um abismo mas encontro a certeza de que lá voltarei e, novamente, em grande.

Tuesday, September 18, 2007

é fuga recorrente a aldeia do meu avô.
fuga mental, mas fuga. no último ano, com tanta viagem, com tanto tempo passado em territórios agora menos estranhos, a imagem da aldeia do meu avô tornou-se ainda mais mítica na cabeça de uma neta que ainda hoje o coloca lá em cima (mas isso é do porradão de saudades que guardo comigo). em nova iorque, pensava nas pedras do chão lá da terra, da grossura das paredes, do cheiro lindo a lenha, nas mulheres com rugas como estradas na cara. nos outros sítios por onde passei mais tempo, a verdade é que quando pensava em "casa" era naquela casa. muito estúpido porque nunca lá vivi, era para lá que ia nas férias, é sobretudo ligação forte com um lado da minha família que é meio desligado deste tipo de coisas.
é imagem mental que tranquiliza e que automaticamente traz aquela sensação de pertença a alguma coisa que é mais do que a família. refúgio, escape, casa de repouso, sítio único no mundo, o espaço que conheço desde sempre, que permanece e resiste ao tempo, às outras casas. a tudo, parece-me. deve ser essa força que me tranquiliza.

Monday, September 17, 2007

"Depois do jantar iremos ao cinema", resolveu o homem. Porque depois do cinema seria enfim noite, e este dia se quebraria com as ondas nos rochedos do Arpoador.
(é assim que acaba o conto laços de família, da clarice lispector.)

é impressão minha ou o que se quer está tudo aqui nesta frase? o dia quebrar-se nas super-pedras do arpoador, no rio, é uma imagem boa. andar a galope no cinema, que nos levará até à noite que rebentará nas mesmas pedras, por mim podem ser outras pedras, é o que se quer da vida.
não é mau começar o dia com uma frase destas, no metro para o cais do sodré, com um friozinho húmido a encaracolar o cabelo. viva a leveza, que também é séria.

Monday, September 10, 2007

Brel












Friday 07th September 2007
Brel - Glasgow's Belgian Bar and Restaurant
Sound Museum
DJ

Price: Free

Time: 9pm-12am

Hushpuppy (Divine at The Art School) and Chris Geddes (Belle and Sebastian) dig their bottomless vinyl crates where they discover dusty funk breaks, heartbreaking soul, foot-tapping jazz and pop-latin vocals from a forgotten past. Retro soul excursions.


(Isto foi o programa que apanhámos em Glasgow na Sexta-feira. Há muito tempo que não ouvia música tão fixe num bar, pena que os escoceses ainda não estivessem numa de dançar)

as janelas são sempre fixes. deixam passar a luz, deixam respirar, são passagem. quando a porta se fecha, a janela abre-se. e tudo o que está para lá da janela é sensual porque a observador do lado de cá encontra tudo exposto no lado de lá. está tudo exposto à espera de ser tocado, seja lá como for. a pessoa encontra aquilo que consegue ver e repara no que a sua predisposição lhe permite. a pessoa é rei e rainha porque os olhos lá fazem a sua rota e a cabeça constrói. há um lado meu que percebe e gosta daquelas senhoras, velhas, que passam horas à janela a ver, e não é só por eu ser coscuvelheira. é que é reconhecimento de território. mas ainda me dá uma certa claustrofobia a condição humana, os olhos estão na cabeça, onde tudo tem de caber. custa forçar as coisas de modo a que caibam na nossa cabeça.
é bom só ver.



Wednesday, September 5, 2007

Squirrel love



(continua a gostar imensamente deste bichinhos...)

Tuesday, September 4, 2007

Boxing




Dog Love

Edimburgo


A cidade é linda e as pessoas simpáticas. O tempo não tem explicação... Já percebi porque é que o meu bisavô Semple imigrou para o Brasil.









(A gravura é da exposição "Amazing Rare Things" organizada pelo David Attenborough)

Sunday, September 2, 2007

estou a fazer uma tese sobre filmes que se passem on the road, na américa. simpatizo tanto com músicas de essência blue que dão voz àqueles que andam por aí, à procura de um fio condutor dentro de si mesmos. sem dramas e assim. a pessoa passa sempre por momentos destes e parece-me que a minha geração está muito no mesmo barco à conta de não ter o norte tão claro - o que não tem de ser mau, dá pinta e surgem soluções mais criativas e ricas, muita vez. eu adoro deixar-me enrolar na rebentação da onda forte mas não dramática. é a vertigem.
as músicas filmes livros que dão voz à malta como a malta, que está um pouco "por aí" são o contrário de estar na rebentação das ondas, são bom porto.
um porto a que recorro há uns anos é do Cartola, chama-se "Preciso me encontrar" e a Marisa Monte não canta nada mal. É o poema seguinte, com cavaquinho, pandeiro, violão e um swing jeitoso que traz a melancolia das palavras cá mais para cima e a pessoa só pode abanar-se, entender e deixá-lo ir. É mesmo bonita.

Preciso me encontrar


Deixe-me ir, preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir, preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer

Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar

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