o bob dylan abre aquela música maravilhosa a dizer não é mesmo coisas da noite/pregar-nos partidas quando tentamos estar tão quietos?. eu amo esta música mas no fundo eu detesto-a, ou detesto os versos da abertura que fixam o tom angustiante e solitário do resto da canção porque a angústia e a solidão dão-me calafrios, são tudo o que eu não quero, sobretudo de noite que é quando estou a tentar estar tão quietinha.
quando li há uns dias o herzog a dizer qualquer coisa como a andar, sou um bisonte. a dormir, uma montanha, sorri, fiquei mesmo contente, e nem foi por a minha auto-imagem ir desde sempre ao encontro de vultos e espaços grandes. ele caminhava com pressa e sentia tudo, via tudo. eu às vezes penso como ele no sentido em que registo ininterruptamente para dentro o que vejo e o que penso sobre o que vejo, e os pensamentos acumulam-se, aprofundando-se pontualmente. aquele livro do herzog é um road book e eu fico às vezes enjoada ao lê-lo por causa do ritmo.
esponja que sou e tão acelerada que ando, com facilidade adiro.
e aí sou um comboio a perfurar os espaços, a deixar as coisas para trás, a penetrar com violência em florestas novas.
só que à noite a floresta assusta, ela desinquieta - tal como a noite que o bob refere.
eu dou por mim a trazer para o dia aquilo que a noite me fez. fico toda desarrumada, encaracolada.
não é uma queixa, é um desabafo. não tem conclusão, dilui-se na tinta.
2 comentários:
Tenho dificuldade em associar solidão a angústia mas, numa descrição tão poética, chego a conseguir.
Um esplendor este pequeno corpo de texto, seja para fora ou para dentro.
S.
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