Sunday, May 29, 2011

Thursday, August 21, 2003

MIURKA DO OUTRO LADO DO ESPELHO

Herdei recentemente de uns amigos uma gata, a Miurka. A Miurka é uma gatinha muito engraçada. Apesar da mudança de donos habituou-se bem à casa e às novas donas. Tenho que dizer que já está lá em casa há quase dois meses mas que só agora, com as férias e o castigo forçado em casa a fazer a tese, é que tenho passado mais tempo com ela. E tem sido muito bom, por entre as minhas pequenas angústias, tesí­sticas ou não, a Miurka vai-me fazendo companhia. Ou vindo para o meu colo, ou andando pela casa tranquilamente, ou pondo a pata em todos os copos abandonados com restos de líquido dentro, ou correndo feita louca escada a cima, escada a baixo (a casa é em duplex). Mas o que eu acho mesmo piada na gata é a relação dela com a casa de banho. Fica muito desconfiada quando nós vamos lá. É um sí­tio estranho, com águas, barulhos, etc e ela gosta de ficar à porta a controlar o que se passa mas sem se aproximar muito. A reacção mais estranha, no entanto, tem-na quando nós nos pomos a olhar para o espelho. Se por alguma razão (maquilhagem, desmaquilhagem, etc) ficamos mais do que um instante a olhar para o reflexo no espelho a gata começa a miar, incessantemente, como se estivesse a dizer "para onde estás a olhar?", "que mundo é esse para que tanto olhas que eu não consigo ver ou pelo menos reconhecer", "pára, volta outra vez a olhar para aqui, para o meu mundo". Logo que deixo de olhar para o espelho ela parece acalmar-se. Um dia tenho que me decidir a apresentá-la a essa outra realidade. A levá-la comigo numa viagem, lá, onde tudo é invertido. Para que ela se tranquilize e fique a conhecer o que é que há, de visí­vel e de escondido, no outro lado do espelho.


p.s.- E fico a pensar que se calhar, mas só se calhar, se eu de facto passasse para o outro lado do espelho da casa de banho, e descesse as escadas desse outro apartamento tão parecido com o meu, se não encontraria, na sala, uma Jussara canhota, a trabalhar, como eu, numa tese, que por ser ao contrário não teria que ser feita, mas sim desfeita. E que se calhar poderíamos fazer a troca, a sua tese feita pelas minha ideias solta, permitindo-nos assim encerrar esta questão e continuar com a nossa vida, cada uma no seu mundo. E se calhar...

# posted by Ju : 4:20 PM





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