Friday, September 3, 2010

lembro-me de aqui há vinte anos atrás das batatas fritas onduladas que a minha avó petitinhas servia ao almoço, numa travessa muita gira, colorida, parecia de plástico mas não era, ao fim de semana, na casa do estoril. eu ia com a minha irmã catarina, que tem menos um ano do que eu, e ficávamos lá com os nossos avós, a brincar aos restaurantes, a tentar perceber os livros do tintin em francês, a olhar para as coisas que tinham sido do nosso pai e dos nossos tios outros vinte anos antes, e a ser tratadas como as princesas que, enfim, somos.
a sala do estoril tinha uma cor muito pesada, ontem lembrei-me disso. o sofá tinha três lugares e acho que se encontrava bem de frente para a varanda, que era boa. do lado esquerdo da sala, de quem está sentado no sofá, encontrava-se uma estante com demasiada coisa, como era hábito das estantes do meu avô. muitos livros, muitos, muitos. e uma aparelhagem lindíssima, que agora está na casa de lagos da lucha. os meus avós tinham uma coisa mesmo boa, que uma comodista anafadita como eu sempre apreciará: bons sofás e bons cadeirões. havia um sofá para uma pessoa, leopardo, meio velvet mas tão bom, de frente para a super estante. esse agora está na casa da lucha, e o cadeirão onde o meu avô lia está aqui, mesmo atrás de mim. eu lembro-me hoje das batatas fritas que nem sei se seriam onduladas ou não e que a minha avó servia ao almoço ao fim-de-semana no estoril e emociono-me. a minha amiga marisa, que eu amo, mudou-se para s. joão do estoril, a casa do meus avós era em s. pedro. aquela zona para mim é mágica e linda e sem defeitos. a casa já não é dos meus avós, e os meus avós já habitam outros espaços (aqui terra como no céu).
eu não sei porque me ando a lembrar destas coisas, a minha cabeça não estava vazia - um vazio tranquilo, até bom às vezes- há tanto tempo.
a infância, a meninice, acaba quando tiver de acabar. há porradões na vida - e eu sou uma abençoada que não tem nem teve muita chatice na vida.
com o tempo, a visão define-se, apaga detalhes, puxa por outros, o real fixa-se de uma forma qualquer. as coisas passam, e sabia lá eu que, vinte anos depois, a imagem da batatas fritas na travessa colorida em cima da mesa de jantar da casa do estoril dos meus avós iria revelar-se tão inspiradora e tão poderosa. como um ponto de fuga num quadro qualquer, só que ao contrário.

1 comentários:

Catarina October 9, 2010 at 12:46 PM  

eram onduladas e o cheirinhos dos hamburgers fritos em alho e margarina...I´ll never forget!!!

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